Em 1998, o morador Tolentino Flores Marafiga notificou a equipe de paleontologia da UFSM sobre a presença de um possível material fóssil em uma estrada na localidade de Água Negra, entre São Martinho da Serra e Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul. No local, os paleontólogos constataram que a descoberta se tratava de um esqueleto fóssil de um dinossauro ainda desconhecido. Após ser escavado e estudado, o dinossauro foi batizado em 2004 como Unaysaurus tolentinoi, o “Lagarto de Água Negra do Tolentino”. Durante os anos seguintes, muitos pesquisadores analisaram os fósseis do Unaysaurus tolentinoi para avaliar características e desenvolver estudos. Contudo, havia algo escondido entre os restos do dinossauro que não foi notado até o início de 2023.
Analisando os fósseis de Unaysaurus tolentinoi, o paleontólogo do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (CAPPA), Rodrigo Temp Müller, notou algo inesperado. Em meio a alguns materiais fragmentários, deparou-se com ossos muito pequenos que não poderiam pertencer ao dinossauro. Depois de revisar todos os fragmentos, concluiu que havia elementos pertencentes a um pé e algumas vértebras de um outro dinossauro misturados aos fósseis do Unaysaurus tolentinoi. Um estudo minucioso da anatomia desses novos fósseis revelou que eles pertenceram a um Unaysaurus tolentinoi juvenil.
Quem era esse dinossauro
De acordo com o primeiro fóssil, o Unaysaurus tolentinoi foi um dinossauro herbívoro que andava sobre duas patas e atingia cerca de 2,8 metros de comprimento. Através de análises, os pesquisadores determinaram que o indivíduo juvenil teria cerca de 1,3 metros de comprimento em vida. Para assegurar-se de que o novo material não se trata de um dinossauro pequeno ao invés de um juvenil, os pesquisadores avaliaram atributos como o grau de fusão entre os elementos ósseos e a textura da superfície dos fósseis. As diferentes linhas de investigação apontaram que o novo material realmente pertence a um indivíduo juvenil.
Conforme datações publicadas em 2018, as rochas que preservaram os fósseis dos dois indivíduos têm cerca de 225 milhões de anos, pertencendo, portanto, ao Período Triássico. Esse é um momento muito importante da história de vida na Terra pelo fato de que muitas linhagens estão surgindo e se estabelecendo, incluindo a linhagem dos dinossauros. O Unaysaurus tolentinoi é um desses dinossauros que viveu no instante subsequente a origem dos dinossauros. Portanto, ele traz informações sobre como eram os dinossauros alguns poucos milhões de anos após o seu surgimento.
Importância da descoberta
O achado de um novo fóssil de Unaysaurus tolentinoi é interessante pelo fato de que, até então, nenhum outro material pôde ser atribuído a Unaysaurus tolentinoi. Como o novo fóssil preserva algumas estruturas desconhecidas para o esqueleto de Unaysaurus tolentinoi, a anatomia da espécie passa a se tornar um pouco mais conhecida. Ainda, como os dois indivíduos estavam associados, a descoberta revela que esses dinossauros podem ter vivido em grupos com indivíduos de diferentes estágios de desenvolvimento. Essa é uma importante informação sobre a biologia dessas criaturas, uma vez que outras descobertas de dinossauros que viveram em um momento próximo geralmente mostram indivíduos de tamanhos equivalentes vivendo em grupos, mas dificilmente indivíduos em diferentes estágios de desenvolvimento. Os pequenos restos fósseis de um dinossauro que sucumbiu ainda muito jovem e que se mantiveram “escondidos” por 25 anos reforçam a importância de se revisar constantemente os materiais depositados em coleções científicas, mesmo àqueles já bem estudados.
Além do paleontólogo da UFSM, Rodrigo Temp Müller, também participaram do estudo os alunos do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Animal da UFSM, Maurício Silva Garcia, Fabiula Prestes de Bem, Lísie Vitória Damke, André de Oliveira Fonseca e o professor da UFSM, Átila Augusto Stock da Rosa. A pesquisa recebeu apoio da FAPERGS, CNPq e CAPES.
O estudo completo pode ser encontrado no site do periódico científico.
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