Um projeto da UFSM busca melhorar o condicionamento acústico de uma sala de aula do Centro de Tecnologia. A expectativa é que o local escolhido, a sala 152 do anexo A do prédio 7, sirva de modelo de boa escuta para outras salas do campus. Esta é uma iniciativa da Acústica Jr., empresa júnior do curso de Engenharia Acústica da Instituição.
Entre os objetivos da equipe responsável, um deles é mostrar como melhorar o condicionamento acústico em salas de aula existentes, com o mínimo de intervenção na estrutura atual, contando apenas com a instalação de materiais porosos e fibrosos para tratamento acústico do recinto. A supervisora do projeto, Viviane Melo, docente do Departamento de Engenharia Acústica, espera que a iniciativa sirva de exemplo para implementar melhorias não apenas na Universidade, mas também em locais fora dos campi da Instituição. “Podemos mostrar como foi feito aqui e divulgar lá fora. Mostrar que, na hora de construir, o uso de soluções e materiais acústicos adequados não deixa o projeto mais caro. O que fica caro é gastar com uma obra inteira e depois pensar nas condições acústicas”, explica a professora.
A equipe que irá executar o projeto é formada por alunos de graduação em Engenharia Acústica, membros da Acústica Jr., e um arquiteto, aluno do mestrado no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, sob orientação do professor Roberto Tenenbaum. Além disso, a ação já tem apoio de uma empresa nacional: a TriSoft, uma empresa que atua no setor têxtil e produz materiais para tratamento acústico, e que irá disponibilizá-los para realização da obra.
Implementação do projeto
As melhorias na sala incluem os tempos de reverberação, além de fatores como a definição e clareza da voz. Para descobrir quais eram os encaminhamentos necessários, a equipe realizou uma série de medições no próprio local para extrair dados das condições acústicas atuais da sala. Posteriormente, estes foram comparados com o padrão ideal de acústica de salas de aula sugerido na literatura nacional e internacional. Este padrão aponta, por exemplo, que o tempo de reverberação do som na sala é em torno de 0,6 a 0,8 segundos, para as frequências entre 500Hz e 2kHz, e, no CT, as médias estavam longe deste ideal, marcando valores entre 1,2 e 1,6 segundos. O tempo maior pode afetar na compreensão da voz do professor, o que prejudica o processo de aprendizagem dos alunos.
Após a definição de melhorias, foi produzida uma maquete eletrônica da sala, para realizar os testes com adição dos materiais. Nesta simulação computacional, serão alimentados os dados da sala e das propriedades dos diferentes materiais possíveis de serem utilizados. Então, a equipe irá analisar quais serão os materiais escolhidos para melhorar o condicionamento acústico da sala e atingir os parâmetros ideais.
Após os testes na simulação computacional, os materiais da obra serão encomendados. A expectativa é que a instalação dos objetos seja realizada durante o período de férias, entre o primeiro e o segundo semestre de 2023. Os próprios alunos farão a melhoria, o que proporcionará também a experiência de instalação dos materiais nas superfícies do ambiente.
Como surgiu a iniciativa
A oportunidade de trabalhar com o condicionamento acústico em uma sala do Centro de Tecnologia surgiu no final de 2022, quando os alunos da Acústica Jr. participaram do 12° Congresso Iberoamericano de Acústica e firmaram uma parceria com a TriSoft Têxtil. Na oportunidade, a equipe da Acústica Jr. entrou em contato com a empresa parceira através da mediação da professora Dinara Paixão, que atualmente é aposentada do Departamento de Engenharia Acústica e foi a idealizadora do curso na UFSM.
No dia 24 de maio deste ano, a empresa convidou o aluno gerente do projeto, Luiz Octavio Miguez Oliveira, e a professora supervisora para conhecerem as instalações e materiais da empresa na cidade de Itapevi, São Paulo. Segundo o próprio CEO da TriSoft, Maurício Cohab, a equipe tem liberdade de escolher quaisquer materiais disponibilizados pela empresa para serem utilizados no projeto, além de também formatar e adaptá-los ao desenho da sala.
Preocupação antiga
Embora a implementação de melhorias acústicas na UFSM seja novidade, a trajetória de Viviane é perpassada pela temática mesmo antes mesmo de ingressar na Instituição, já que estuda o tema desde sua pesquisa de doutorado, concluída em 2012. Em sua tese, ela trabalhou a acústica de salas de aula de escolas de ensino fundamental, preocupando-se com as diferenças nos parâmetros de escuta de crianças e adultos. Viviane deu continuidade à pesquisa quando chegou à UFSM, em 2017.
No ano seguinte, registrou o projeto de extensão “Apoio à melhoria das condições acústicas em salas de aula de escolas públicas sediadas no município de Santa Maria”. Ele está ativo até hoje, e se dedica a melhorar as condições acústicas em salas de escolas públicas da cidade para otimizar o processo-aprendizagem dos jovens, otimizando o entendimento da voz do professor e aumentando o nível de aproveitamento das aulas para os alunos. A cada ano, a equipe do projeto se propõe a avaliar as condições em uma ou duas escolas, e implementar diferentes projetos a partir dos resultados das medições e simulações acústicas realizadas.
Entre as escolas beneficiadas pelo projeto nos últimos anos, estão as escolas municipais de ensino fundamental: Padre Nóbrega e Vicente Farencena; e as escolas estaduais: Professora Margarida Lopes e Professora Edna May Cardoso. Em 2023, a Escola Estadual de Ensino Básico Augusto Ruschi também recebe o projeto apoiado pelo Edital FIEX CT/UFSM.
Próximos passos
Outros projetos da área estão se expandindo pela UFSM. Viviane conta que há a intenção de desenvolver um projeto de melhoria acústica no Hall do CT. Além disso, está em desenvolvimento um projeto, em parceria com a Coordenadoria de Comunicação Social da UFSM, para melhorar o isolamento acústico dos estúdios de gravação da Casa da Comunicação. A equipe também busca novas oportunidades de promover melhorias acústicas ao redor da universidade, para mostrar a importância de se pensar nessas condições e também servir de exemplo para futuras obras.
Texto: Luísa Monteiro – estudante de jornalismo e bolsista do Centro de Tecnologia
Fotos: Arquivo pessoal de Viviane Melo
Edição: Paula Apolinário, estudante de jornalismo e Mariana Henriques, jornalista
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