Produzir alimentos de forma mais eficiente também é uma forma de reduzir os danos ao meio ambiente, como mostra o estudo realizado pela equipe FieldCrops, da UFSM, sobre a produção de milho em Santa Catarina. Os resultados mostram que a produção média do grão no estado, que é de, atualmente, 6,9 toneladas por hectare (t/ha), pode subir para 11,2 t/ha utilizando a mesma área e sem precisar investir em irrigação. Esse crescimento de mais de 60% na safra geraria uma produção bruta de mais de um milhão de toneladas.
O fator chave para atingir esse potencial está no manejo eficiente da cultura. Os extensionistas da Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), parceira da FieldCrops no trabalho, analisaram 293 lavouras de milho e, entre as propriedades mais produtivas, foi possível notar características como aumento da quantidade de plantas por hectare, antecipação da semeadura, aplicação doses maiores de potássio e utilização do calcário de forma mais constante sobre.
“A maior parte dessas técnicas são ajustes baseados no conhecimento aplicado, então não têm custos e podem ser aplicadas por grandes e pequenos produtores”, destaca o professor Alencar Zanon, do Centro de Ciências Rurais da UFSM, um dos autores da publicação. Zanon ainda acrescenta que, no início do trabalho, os pesquisadores não esperavam um potencial tão grande no ganho de produtividade. As técnicas descritas no trabalho podem gerar crescimento semelhante da produtividade em regiões com as mesmas características de clima e solo encontradas no território catarinense.
Redução no impacto ambiental e nos custos de outros alimentos
O milho produzido em Santa Catarina é utilizado principalmente na alimentação de animais voltados para a produção de carne suína, carne de frango – das quais o estado é um dos principais exportadores nacionais – e leiteira. No entanto, a quantidade atual produzida não é suficiente para atender a demanda do setor pecuarista regional. A pesquisa estima que o consumo de milho é 66% superior à quantidade produzida, o que faz com que os agricultores tenham de importar o grão de outros estados ou países como Argentina e Paraguai.
Essa demanda pela importação gera aumento no custo para produzir alimentos e também nos impactos ambientais por conta da emissão de poluentes durante o processo de transporte, que está entre as três principais fontes de gases de efeito estufa na produção de grãos. Ou seja, o aumento da produção interna reduz a emissão de CO2 que ocorre no transporte do alimento importado. “Aumentar a produção interna seria muito benéfica tanto pela redução significativa dos gases de efeito estufa quanto pela redução do custo da matéria-prima no processo de outros setores agrícolas locais que utilizam o milho como insumo”, destaca o professor.
Produzir de forma eficiente é essencial para reduzir os custos. Mas produzir o máximo possível também cobre o seu preço. Atingir 100% da eficiência produtiva requer controle máximo de todas as variáveis possíveis, como clima, sazonalidade das chuvas, doenças e pragas. Chegar neste patamar torna a produção de milho, que tem caído nos últimos tempos por conta da baixa valorização econômica, inviável financeiramente e insustentável em termos de preservação ambiental. Embasado no trabalho, o professor do Centro de Ciências Rurais explica que o maior nível de eficiência, tanto financeiro quanto ambiental, é encontrado quando os produtores atingem 80% do potencial produtivo de sua lavoura, o que gera renda e também preserva o meio ambiente.
Expectativas alinhadas com a realidade
A equipe FieldCrops é uma das colaboradoras do projeto Global Yield Gap Atlas (Gyga), iniciativa que busca, por meio da eficiência nas práticas agrícolas, produzir mais alimentos e reduzir o impacto ambiental. Esse protocolo conta com uma metodologia que divide o território catarinense em zonas climáticas baseada em elementos como sazonalidade da temperatura, disponibilidade de água e amplitude térmica.
Os dados foram obtidos através de informações de estações meteorológicas e pelo trabalho de campo dos extensionistas rurais da Epagri que acompanharam quase 300 propriedades durante as safras 2020/2021 e 2021/2022. No mesmo período, foram conduzidos experimentos na Epagri com três tipos de milho: precoces, superprecoces e hiperprecoces. A pesquisa interna serviu como uma referência da produtividade sem limitações impostas por pragas, doenças e pelo ambiente.
Todas essas informações foram compiladas em um modelo que simula o crescimento da plantação sem condições adversas. Os dados são comparados aos obtidos em outras lavouras para confirmar a eficiência do modelo de previsão. A diferença entre o simulado pelo modelo e o observado nas lavouras variou de 0,9 a 2,6 toneladas por hectare (t/h), números próximos às variações apresentadas em estudos nos Estados Unidos (de 1,2 a 2,0 t/ha), onde o método foi criado. O trabalho pode ser acessado, na íntegra, em formato de ebook, através do link.
Texto: Bernardo Silva, estudante de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Arte: Daniel Michelon De Carli
Edição: Mariana Henriques
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