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Professora da UFSM é agraciada pelo Itamaraty com a Ordem de Rio Branco

A professora Ana Cláudia Pavão mostra a condecoração recebida em Brasília

A Ordem de Rio Branco é a principal honraria concedida pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil (também conhecido como Itamaraty) para reconhecer serviços meritórios e relevantes que envolvam as relações internacionais. Estrangeiros ou brasileiros podem ser agraciados com a honraria. Na última terça-feira (27), uma brasileira, professora formada na UFSM e Coordenadora do Curso de Formação de Professores para o Atendimento Educacional Especializado, recebeu a Ordem de Rio Branco com grau de Comendador, o terceiro entre os cinco graus da ordem.

Ana Cláudia Oliveira Pavão, docente do Departamento de Educação Especial da UFSM, foi pega de surpresa ao receber o comunicado de que seria agraciada com a ordem. O e-mail enviado pelo Itamaraty comunicou que ela receberia a condecoração diretamente das mãos do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin.

Formada em Letras pela UFSM e doutora em Informática na Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Ana Cláudia é coordenadora do projeto “Escola de Todos”, que leva professores e servidores da UFSM a outros países com o objetivo de compartilhar a educação inclusiva. O projeto já visitou dois países africanos. A ação realizada em Cabo Verde culminou no lançamento de um dicionário de gestos para a população surda local. Em Angola, docentes do curso de Terapia Ocupacional da UFSM prestaram assessoria em tecnologia assistiva para professores locais.

A Agência de Notícias da UFSM conversou com Ana Cláudia Pavão para relembrar esse momento significativo para ela e para a comunidade da UFSM. Confira a entrevista:

Quando você soube que seria agraciada? Como foi?

Eu recebi um e-mail, em setembro do ano passado, dizendo que eu estava sendo condecorada para nível comendador. Daí eu pensei: “isso é pegadinha”, nem dei bola. Depois de uma semana, mais ou menos, veio um e-mail dizendo que, por conta da saúde do presidente, o evento seria cancelado. Eu continuei não acreditando.

Esse ano eu recebi o e-mail de novo, não dei bola. Depois de uns três dias veio outro e-mail: “Precisamos da sua confirmação, com urgência, se estará presente…” Aí eu pensei em dar uma olhada. Resgatei os e-mails do ano passado, depois procurei na internet e dizia que não houve agraciados em 2024, porque o presidente tinha cancelado.

Eu falo com o pessoal em Brasília todos os dias, por causa dos projetos. Quando eu estava conversando com uma dessas pessoas, fui avisar sobre a “pegadinha” que estavam me mandando. Ele começou a rir e disse: “não, Ana, é para ti mesmo”.

Fiquei extremamente feliz, muito agradecida. Tudo isso, acho que é um reconhecimento do esforço que a gente faz dentro do trabalho, dos projetos. De fato, esses projetos colocam o Brasil, colocam a universidade, colocam a área da educação especial da universidade em destaque.

A honraria foi concedida por alguma atividade específica ou pelo conjunto de atividades que a senhora coordena?

Essa honraria é concedida a pessoas físicas ou jurídicas, que fazem alguma ação no Brasil, no âmbito internacional. Eu coordeno os projetos que são realizados em Angola e Cabo Verde e que colocam o Brasil em destaque. Esse projeto busca desenvolver, implementar e projetar a educação inclusiva nesses países, ofertando cursos de formação para professores. Pensamos: “o que é preciso para que a educação superior em Angola ou em Cabo Verde se desenvolva? Então a gente reúne os professores e trabalhamos nos documentos orientadores, que são diretrizes.

Por exemplo, em Cabo Verde, a gente desenvolveu o primeiro dicionário de língua gestual. Cabo Verde não tinha dicionário. E esse foi um trabalho de 5 anos que a gente foi fazendo, revisando junto com eles. Professores iam e voltavam, levamos pessoas surdas para lá e trazíamos pessoas. Fazendo essa interlocução, até que conseguimos finalizar o dicionário e apresentar para surdos.

Depois quando a gente vai vendo o impacto que isso dá no país, para as pessoas diretamente, o quanto a gente mudou por meio de um curso ou por meio do dicionário, nós também mudamos, junto com aquela comunidade. As ações que a gente desenvolve em parceria com eles fazem com que aquele local mude, que haja uma melhor qualidade de vida, desenvolva autonomia das pessoas com deficiência, da sociedade também, das escolas, das famílias que vivem com as pessoas com deficiência.

Como de costume, o Presidente da República entrega a honraria aos agraciados. Foi o Lula quem te entregou a Ordem de Rio Branco?

Não. Não recebi do Lula, porque ele teve labirintite e estava de cama. Quem coordenou a entrega foi o vice-presidente Geraldo Alckmin. Eu já estive outras vezes com o Lula, por outros motivos, mas dessa vez não foi. Segunda-feira ele passou mal, foi recolhido e, como a cerimônia era terça pela manhã, ele não esteve presente. Claro que seria uma honraria maravilhosa de ter recebido dele, mas ela não deixou de ser importante.

Agora, vamos falar da sua trajetória. Como você chegou até a Educação Especial? Como foi seu processo para chegar até aqui e receber a Ordem de Rio Branco?

Eu sou formada em Letras, fiz o meu mestrado em Educação na UFSM e o doutorado em Informática na Educação na Ufrgs. O mestrado e o doutorado foram voltados para a formação de professores com tecnologia utilizando redes colaborativas.

Quando eu estava concluindo o doutorado, a universidade estava iniciando o processo de educação a distância, em 2005. Então, houve um edital pela Fatec [Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência] para contratar professores que tivessem conhecimento na área de formação de professores, na questão de tecnologia, uso de plataformas e ambientes colaborativos. Eu me inscrevi e fui admitida.

Depois, eu trabalhei na implementação da Educação Especial à distância, porque o curso de Educação Especial foi o primeiro curso à distância da Universidade Federal de Santa Maria. Na época, em 2006, existiam três polos: Uruguaiana, Livramento e Bagé. Naquela ocasião, eu trabalhei não só na revisão dos materiais, mas também na capacitação dos professores e dos alunos nesses polos para que usassem o ambiente virtual. E, nesse processo, o curso pode ofertar uma vaga de professor. Eu fui aprovada.

Houve um outro edital em Brasília sobre a implementação de cursos à distância pelo MEC [Ministério da Educação] na Educação Especial. Eu já tinha um currículo e um conhecimento voltado para a área da Educação Especial. Então, eu trabalhei um ano m pouco em Brasília na confecção de cursos, projetando, fazendo projeto de cursos para ofertar aos professores do Brasil todo. Entre as coisas que eu tinha que fazer, uma delas foi fazer um projeto para Cabo Verde, Angola e Moçambique ofertando ações de educação inclusiva. Depois que terminou o contrato em Brasília, eu passei no concurso e vim para a UFSM.

Quando saiu o acordo, como eu tinha feito o primeiro esboço do projeto e já era funcionária pública federal, eu fui chamada para coordenar a ação em Cabo Verde. E depois daquela ação todas as outras foram vindo. Angola pediu que a UFSM fizesse o projeto, por já conhecer a trajetória da universidade com o que fazíamos em Cabo Verde. Em 2008 foi a primeira vez que eu estive em Cabo Verde, então faz 17 anos que eu coordeno esses projetos e que a gente vem desenvolvendo essas ações.

A senhora comentou que ficou desconfiada quando recebeu a mensagem sobre a honraria. A senhora não imaginava que iria receber algo assim durante a sua carreira?

Nesse nível, não. Nunca imaginei. Primeiro, porque eu não conheço ninguém que seja comendador, nunca vi um comendador. Não é uma condecoração que a gente costuma ver tanto na universidade, nem fora.

Na verdade, nunca parei para pensar: “ah, eu estou fazendo isso, porque vou receber um prêmio”. Não, quando se propõe a fazer um trabalho, a gente faz bem feito, o melhor que puder fazer sem imaginar que outras pessoas estão olhando.

Acho bem importante dizer que eu estou recebendo essa condecoração, mas eu recebi porque várias pessoas trabalharam juntas. No ano passado, foram mais de 30 missões que nós fizemos. Nem a Agência Brasileira de Cooperação, com quem trabalhamos, imaginou que fosse ser daquele jeito. Porque fizemos um planejamento: toda sexta-feira duas pessoas iriam para o outro país e todo domingo duas pessoas voltavam para o Brasil. Durante a pandemia, os professores iam pegar voos em Porto Alegre, ou em Caxias, Santo Ângelo, Passo Fundo, Chapecó. E tudo isso com o apoio da universidade, que levava os professores até o aeroporto, para que a gente não interrompesse o trabalho. É um conjunto, a soma do que as pessoas fazem que combina.

Para finalizar, o que esse reconhecimento representa para você pessoalmente e profissionalmente?

Eu, obviamente, fiquei muito feliz. É um reconhecimento por todo o trabalho que foi feito por mim e pela equipe que eu represento. Eu gosto de dizer, e dizer várias vezes, porque eu sozinha poderia ter tudo na mão para ser feito, mas se eu não tivesse as pessoas que estiveram comigo, isso não aconteceria.

Quando decidiram meu nome, foi visto realmente o que a gente fez, porque todos nós que participamos do projeto, nós damos o nosso melhor. Se tu fores fazer uma entrevista com qualquer um que foi, podemos ver o quanto isso representou pessoalmente, por conhecer outras culturas e profissionalmente o quanto eles trouxeram.

Pessoalmente, é de um reconhecimento sem medidas e, profissionalmente, vale quase um Lattes todo. Te dá aquela certeza de que tu conseguiu fazer, articular: foi bem feito. Eu não sei se tem outro projeto na universidade que leva tanta gente para fora, que inclusive leva professores do estado, do município e funcionários, leva professores do estado, professores do município. A gente conseguiu fazer uma rede de pessoas que trabalham junto. Só de saber que isso foi reconhecido já é uma honra sem medidas.

Texto: Jessica Mocellin, estudante de Jornalismo e bolsista na Agência de Notícias

Edição: Lucas Casali

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