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Dia da Defesa da Fauna: projetos da UFSM fortalecem a conservação da biodiversidade

O Dia Nacional da Defesa da Fauna, celebrado em 22 de setembro, foi instituído em 1980 por meio do Projeto de Lei nº 3.55, com o objetivo de reforçar a importância da conservação da vida animal. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a fauna brasileira é a mais diversa do mundo: são mais de 100 mil espécies de animais, entre vertebrados e invertebrados, catalogadas no país. Apesar dessa riqueza, 1.173 espécies brasileiras correm risco de desaparecer da natureza, conforme aponta o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, publicado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em 2018.

Grande parte dessa fauna é endêmica, ou seja, só ocorre em território nacional, o que amplia a relevância da conservação. A preservação, no entanto, não depende apenas de pesquisas científicas ou de políticas públicas: qualquer cidadão pode colaborar. Esse é o princípio da ciência cidadã, que tem se consolidado como aliada fundamental na proteção da biodiversidade.

Em abril de 2025, ocorreu a 10ª edição do Desafio da Natureza Urbana (City Nature Challenge), que reúne mais de 700 cidades em todo o mundo, sendo 19 brasileiras. A iniciativa convida pessoas de todas as idades a observar e registrar a biodiversidade ao seu redor por meio do aplicativo iNaturalist, compartilhando informações com a comunidade científica global. O esforço coletivo mostra que cada registro, por menor que pareça, contribui para compreender e preservar a vida natural. Em Santa Maria, a UFSM segue nessa direção com projetos próprios que incentivam a comunidade a mapear a fauna local.

eFauna

O aplicativo eFauna, lançado em novembro de 2024 pela UFSM, busca formar uma rede de voluntários para catalogar a biodiversidade por meio de um banco de dados fotográfico das espécies vertebradas que habitam o campus. Com base nos princípios da ciência cidadã, qualquer pessoa pode participar: estudantes, servidores, professores, terceirizados ou frequentadores ocasionais. A única exigência é que os registros sejam feitos dentro dos limites do campus.

Disponível gratuitamente na Playstore, o aplicativo reúne abas como Fauna em números, Conhecendo a fauna, Novo registro, Mapa de avistamentos e, em sua atualização mais recente, a opção Novo registro – acidentes com a fauna, voltada a ocorrências como atropelamentos e colisões em vidraças.

O número de espécies catalogadas cresceu no último ano, chegando a 355. Segundo a coordenadora do projeto, professora Marilise Krügel, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, o aumento foi mais expressivo entre as aves, que passaram de 232 para 247 espécies. “Quanto mais pessoas estiverem atentas aos animais que vivem no campus, mais informações serão obtidas e armazenadas em um banco de dados. Isso é o princípio da ciência cidadã. Que as pessoas formem uma rede de cidadãos ativos, colaborativos e voluntários em prol de uma causa, gerando conhecimento que pode se traduzir em ciência”, afirma.

Entre os registros mais comuns nos primeiros meses do app estão a seriema e o teiú, maior lagarto do Rio Grande do Sul. Alguns avistamentos, no entanto, marcaram a biodiversidade local, como o primeiro registro em Santa Maria do caminheiro-de-barriga-amarela (Anthus hellmayri), feito pela acadêmica de Biologia Roberta Rödel em julho de 2025. Também se destacam as capturas da marreca cri-cri (Spatula versicolor), da marreca caucau (Nomonyx dominicus) e de um gato-maracajá (Leopardus wiedii), infelizmente atropelado na área nova da UFSM. O avistamento mais recente foi o do gavião-pernilongo (Geranospiza caerulescens), registrado nas imediações da ponte seca, mas sem tempo hábil para fotografia.

Além de estimular os registros, a professora Marilise lembra da importância de alguns cuidados. Não alimentar os animais e evitar aproximações excessivas são medidas essenciais, especialmente nos meses de reprodução. O caso recente das seriemas reforça o alerta. “Com paciência e mantendo distância, é possível observar e fotografar sem causar incômodos”, explica.

Para ela, iniciativas como o eFauna têm grande potencial de sensibilizar e podem resultar em pessoas mais atuantes em prol da conservação das espécies e de seus ambientes. “Apresentar conteúdo sobre a fauna do campus é algo necessário porque temos que falar sobre a coexistência com a fauna. O campus da UFSM não é só dos humanos e dos animais domésticos, outras 355, incluindo espécies de anfíbios, répteis, aves e mamíferos compartilham o espaço conosco. E, ainda, não estamos falando das espécies vegetais”, acrescenta.

PET Bio

O Programa de Educação Tutorial de Ciências Biológicas (PET Bio) também atua na preservação e divulgação da biodiversidade por meio de um levantamento da fauna do campus. A iniciativa difere do eFauna principalmente na forma de armazenamento e disponibilização dos dados, além de incluir registros de invertebrados.

O projeto oferece certificado de 20 horas de Atividade Complementar de Graduação (ACG) aos 10 alunos que mais enviarem fotografias de espécies ao perfil do PET Bio no Instagram. Para participar, basta registrar os animais dentro do campus, garantindo imagens de boa qualidade para a identificação.

Segundo o PET Bio, além de contribuir para a ciência cidadã, os registros poderão subsidiar futuras pesquisas na UFSM.

@faunaufsm

O perfil Fauna UFSM, no Instagram, é gerenciado por Arlei Antunes, integrante da equipe de vigilância noturna da Universidade e apaixonado por Biologia. Ele criou a página para popularizar a biodiversidade do campus por meio das redes sociais. “Percebo que sem a página, essas espécies não teriam ocorrência conhecida no campus, e elas são importantes para mostrar a relevância da conservação e da preservação da natureza daqui”, diz.

Arlei explica que várias pessoas participam de grupos de observação de aves, ou registram animais por hobby e acabam por não divulgar as imagens. Por isso, a página do Fauna UFSM surge para engajar um público mais amplo e gerar visibilidade para a causa da biodiversidade. Ele conta que conseguiu, em um ano, aumentar a lista oficial de registros de espécies no campus, com espécies relevantes como tamanduá-mirim e o veado catingueiro — este último, ameaçado de extinção.

Olha o Passarinho!

Atividade do grupo em Arroio do Só (Foto: Instagram Olha o passarinho!)

O programa de extensão Olha o Passarinho! atua junto a estudantes do terceiro ao sexto ano do ensino fundamental, com foco na educação ambiental e na divulgação da avifauna regional. Marilise Krügel, coorientadora do projeto, destaca a importância de sensibilizar desde a infância: “As crianças costumam conhecer a fauna exótica como elefantes, girafas e leões e, geralmente, pouco conhecem as espécies da fauna silvestre. No Rio Grande do Sul, temos dois biomas, Pampa e Mata Atlântica, com uma espetacular riqueza de espécies animais e vegetais que precisam ser abordadas em destaque em todos os níveis de ensino”.

Há 13 anos, o Olha o Passarinho! atua na divulgação e apresentação de aves às crianças. Marilise acredita que a prática de observação de aves é uma poderosa ferramenta de sensibilização e educação ambiental. O projeto desperta o interesse das crianças e convida a observar as aves em liberdade, refletir sobre a caça ilegal, o tráfico de animais e apreciar a natureza sob uma nova perspectiva.

Texto: Marina Brignol, acadêmica de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Edição: Mariana Henriques

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