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UFSM auxilia no tratamento técnico do acervo do Clube Caixeiral de Santa Maria

Alunos da disciplina de Arquivo, Memória e Patrimônio com os professores, usando máscara e roupa branca, em pé, ao redor de uma mesa que contém livros, papéis, e garrafas. No lado esquerdo da mesa há duas mulheres, uma delas segurando um livro. No lado direito há cinco mulheres e um homem observando.
Alunos e professores de Arquivologia em trabalho de tratamento técnico do acervo do Clube

Professores e estudantes do curso de Arquivologia da UFSM, junto com o Arquivo Histórico Municipal e a Biblioteca Municipal de Santa Maria, realizam um trabalho de tratamento técnico em materiais do Clube Caixeiral. A ação teve início após a queda do telhado do prédio, em agosto, e dá ênfase à preservação dos itens encontrados no local, em sua maioria livros e documentos, como fichas de sócios, documentos fiscais, relativos à gestão de pessoas, mapas e fotografias.

De acordo com a professora do curso de Arquivologia Fernanda Kieling Pedrazzi, “o acervo é riquíssimo e tem muitas nuances da sociedade local, seus costumes, seu modo de se constituir, dando uma noção do associativismo ao longo dos anos e de como acontecimentos do dia a dia eram vividos pela comunidade ligada ao Clube”. Fernanda conta que o trabalho com o acervo bibliográfico e arquivístico está no início, e é preciso planejar algumas etapas, que envolvem higienização, avaliação das condições físicas, ordenação, classificação, indexação e preparação para encaminhamento, com acondicionamento em caixas. O projeto deve ser desenvolvido até o final do ano. 

Estudantes da UFSM participam do trabalho como bolsistas e voluntários. São alunos da disciplina Arquivo, Memória e Patrimônio. Os estudantes terão aulas práticas até novembro, nas quintas-feiras pela manhã, no Centro de Atividades Múltiplas, o Bombril. Fazem parte da equipe, também, a professora da área de Conservação e Restauração Sonia Constante e o professor que trabalha Ética, Identidade e Memória Jorge Cruz.

“A ideia é que alunos compreendam o papel da sociedade frente a arquivos privados, como o do Clube, e a importância desse tipo de acervo para a comunidade. Ao manusear o material terão frente a si a real condição da memória da instituição, bem como poderão contribuir para seu resgate, analisando criticamente os efeitos da negligência e esforços necessários para o restabelecimento da integridade física. Há, nessa oportunidade, mais que conteúdos disciplinares, mas uma aula de cidadania”, relata Fernanda.

Mulher com cabelos soltos usando máscara, vestindo uma roupa branca e luvas. Ela está ao lado de um homem com cabelo curto e escuro usando óculos. A mulher está desenvolvendo um trabalho de reparo em uma foto do clube caixeiral. O homem está observando. Perto do registro há um pouco de algodão. 
Aulas práticas serão realizadas até novembro

A secretária de Cultura de Santa Maria, Rose Carneiro, fala sobre a importância do Clube: “Ele guarda documentos e um acervo que envolvem a história da cidade e de muitos santa-marienses. São memórias de uma época que fazem parte da história de Santa Maria. São nossas memórias que constroem nossa história, então, cuidar desta documentação é importante. Também do acervo da biblioteca do Caixeiral, presente na vida de tantas pessoas por aqui”, destaca. A Prefeitura está responsável pela guarda do acervo. Rose diz que ainda não há definição quanto ao destino do material. 

Clube Caixeiral foi tema de dissertação em Patrimônio Cultural na UFSM

O Clube Caixeiral de Santa Maria foi fundado em fevereiro de 1886. De acordo com dados fornecidos pelo arquiteto e urbanista Alex Scherer Porporatti, que recentemente defendeu sua dissertação no Mestrado em Patrimônio Cultural da UFSM sobre levantamento arquitetônico e histórico-cultural do Clube, o ato aconteceu por meio de uma reunião promovida por Herculano dos Santos. A instalação solene do Caixeiral deu-se em 28 de março de 1886, em sua primeira sede, um sobrado existente na esquina das atuais ruas Dr. Bozano e Duque de Caxias. O Clube surgiu com o intuito de promover e difundir o conhecimento. 

O primeiro jornal oficial do Caixeiral foi lançado em janeiro de 1887, chamado “O Combatente”, publicado aos domingo, e permaneceu como órgão oficial do clube até 1889. No mesmo ano, foi lançado o “28 de Março”, o segundo jornal oficial do clube. “Os jornais escritos e dirigidos por caixeiros se tornaram importantes ferramentas de luta e resistência da classe”, destaca Alex. 

Em 1919 o Clube passa para sua segunda sede, em um terreno doado por Henrique Ribeiro da Silva, na Rua do Maximiano (atual Floriano Peixoto). Em 1921, retorna a sua sede própria. Já em 1922, começa a construção da nova sede, na Rua do Acampamento, nº 39. Após quatro anos, o Clube inaugurou sua sede definitiva. Projetado por Olympio Lozza, seguindo o projeto de autoria do arquiteto alemão Theodor Wiederspahn, a edificação foi exemplo de progresso e modernização, já que rompeu com a arquitetura referente ao período colonial.

“A construção de sua sede definitiva se transformou em um dos marcos arquitetônicos do centro de Santa Maria. Este remanescente de cunho eclético representava o sucesso e solidez que essa instituição possuía na sociedade da época, tornando-o um local privilegiado para usufruir o conforto material e contemplar as inovações introduzidas pela modernização dos padrões arquitetônicos, sociais e econômicos”, relata Alex.

Hoje, o clube Caixeiral possui tombamento provisório, conforme decreto executivo nº 196, de 18 de dezembro de 2019. Atualmente, o Clube Caixeiral, que é uma instituição privada, está sob a responsabilidade de uma administradora judicial. Devido ao risco que a deterioração do prédio oferece à população e à alegação de que a diretoria não possui verba para custear qualquer intervenção, o município decidiu agir. Tapumes foram colocados ao redor do prédio, junto à Rua Alberto Pasqualini, para evitar a circulação de pessoas próximo à lateral. 

Texto: Gabriela Leandro, acadêmica de Jornalismo, voluntária da Agência de Notícias
Fotos: Fernanda Kieling Pedrazzi/Arquivo pessoal
Edição: Ricardo Bonfanti, jornalista

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