Música e cultura se encontram e ganham forma no distrito de Vale Vêneto, localizado no município de São João do Polêsine, para mais edição do Festival Internacional de Inverno da UFSM, que começou no dia 23 e segue até domingo (30). Estudantes, professores e a comunidade “respiram música” por meio de uma extensa programação que inclui concertos, recitais e oficinas. Durante esse período, o local também recebe a Semana Cultural Italiana – o que oportuniza ao público uma experiência que une música e gastronomia.
O propósito do Festival é proporcionar aprimoramento musical por meio de um intercâmbio com professores de diversas partes do mundo – que viajam até a região central do Rio Grande do Sul para compartilhar conhecimentos sobre os mais variados instrumentos musicais. “Eles vêm para cá nessa semana para ensinar e também proporcionar música de qualidade às pessoas que vêm até aqui”, afirma Guilherme Garbosa, um dos organizadores do evento. Ele ainda destaca a parceria entre a Prefeitura de São João do Polêsine, a University of Georgia e a UFSM – que, por meio do Festival, extensiona uma ação que leva música, cultura, arte e educação para a comunidade.
Uma das formas de prestigiar a música durante o Festival acontece durante os concertos. Eles são realizados diariamente, ao meio-dia e às 19 horas, na Igreja de Corpus Christi – um importante símbolo que carrega fé e traços da cultura italiana. Na segunda-feira (24), o público pôde acompanhar um concerto de sopros e percussão da Orquestra Jovem Recanto Maestro – um projeto educacional e artístico promovido pela Associação Antônio Meneghetti.
A professora de violino Arianna Gutierrez conta que, atualmente, a iniciativa atende 260 alunos, dos 4 aos 21 anos, de forma gratuita. A orquestra compartilha conhecimento sobre instrumentos de corda, sopro e percussão em sete municípios da Quarta Colônia: Silveira Martins, Agudo, Restinga Seca, Faxinal do Soturno, Dona Francisca, São João do Polêsine e Santa Maria. “É uma baita oportunidade porque estamos inserindo eles em um contexto internacional – onde eles já começam esse caminhar, essa trajetória profissional deles. Então, é muito importante”, destaca a professora.
A orquestra foi a estreia de Éllen Portella Gabbi, que toca clarinete, no Festival de Inverno. Com 17 anos e moradora de Silveira Martins, ela vê a apresentação como uma forma de compartilhar com o público o que aprendeu durante os dois anos em que participa do projeto. “É a primeira vez que toco para um público especializado, que sabe o que estamos fazendo e vai perceber algumas coisas relacionadas à orquestra e aos instrumentos”, conta. O concerto também foi a primeira apresentação de Ana Júlia Wachholz, de 11 anos, que toca oboé. “No começo eu estava nervosa, mas foi uma nova experiência. Desde pequena eu sempre gostei de música e, por isso, comecei as aulas na orquestra quando descobri que tinha na minha cidade”, complementa Ana Júlia.
Imersão musical
Durante o evento, o distrito de São João do Polêsine é tomado pelo som de instrumentos distintos – especialmente no período em que acontecem as oficinas. Ao todo, foram 14: violino, viola, violoncelo, contrabaixo, flauta transversal, oboé, clarinete, fagote, trompa, trompete, trombone, percussão, piano e educação musical. As oficinas estão distribuídas em diferentes espaços, como a igreja, o seminário, a escola e o hotel do distrito, que, durante o festival, se transformam em salas de aulas para reunir os alunos e os professores.
Foi em uma das salas localizadas no Seminário Rainha dos Apóstolos que o professor Nikolay Genov, da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), ministrou a oficina sobre trompa. No espaço, ambientado por um vitral colorido – que, além de música, conferia arte ao local – ele compartilhou com os inscritos a história do instrumento, o correto manuseio e as combinações de notas musicais. É a primeira vez que Nikolay participa do Festival e, mesmo sendo um contato recente com Vale Vêneto, já vê o local como uma oportunidade de focar na música.
Para o professor, a imersão é uma forma de contribuir com a formação dos alunos, que além de aprenderem a parte técnica com aulas individuais, também colocam em prática nas apresentações ao público. “Nós, músicos, precisamos aprender a lidar com o nervosismo no palco. Então, acho muito importante essa experiência para que os alunos aprendam a tocar na frente das pessoas. Vai servir futuramente para outros compromissos que eles vão ter com a música”, completa.
No mesmo prédio, o professor Daniel Silver, da University of Colorado, dos Estados Unidos, se arriscava no português para se comunicar com alunos na oficina de clarineta. Durante a aula, o som era reproduzido pelos alunos após o ensinamento do professor americano, que observava atentamente cada aluno presente. A alguns passos dali, na Escola Pe. Rafael Iop, as salas de aula do ensino fundamental deram espaço às oficinas de violoncelo e viola, por exemplo. Já no hotel, aconteciam as aulas de contrabaixo e violino, além da educação musical – oficina que destaca o ensino e a cultura por trás dos instrumentos.
Um espaço de “música pelas janelas”
Apesar de estar localizado próximo à UFSM, o evento reúne alunos de diversos estados e países, que buscam uma imersão musical no pequeno distrito de Vale Vêneto. Foram 110 alunos inscritos nesta edição. Renato Tadeu Moro é acadêmico de música na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e veio até o Festival após ficar sabendo da iniciativa por colegas e professores. Após participar da oficina de contrabaixo, ele aproveitou o espaço da escola para praticar e proporcionar um espetáculo à parte para quem passava pelo local. “Sobre o evento, eu diria que a comida é muito boa, as pessoas são muito calorosas, e está sendo muito legal conviver com músicos de alto nível. Pretendo voltar com certeza”, conta Renato.
Rafaela Michel, bacharel em Música na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), compartilha o mesmo sentimento. Ela veio até a região central para as oficinas de violino. “Nessa semana de Festival acaba que a gente praticamente só respira música. Também acho legal o fato de andar na rua e ouvir vários instrumentos sendo tocados. É literalmente música pelas janelas”, relata Rafaela.
“Uma experiência muito válida, para professores e alunos, ter essa desenvoltura e conhecer novas músicas, instrumentos e repertórios”. É dessa forma que Fernanda Ribeiro, formada em música na UFSM, define o Festival. A primeira vez que ela participou do evento foi quando tinha 13 anos. De lá pra cá, ingressou na graduação, e hoje participa da oficina de educação musical para levar o conhecimento para dentro da sala de aula.
Desenvolvimento de crianças por meio da música
No Festival Internacional de Inverno da UFSM, as crianças também têm seu espaço reservado na programação. Com o objetivo de aproximá-las dos instrumentos e do interesse pela música, as oficinas são realizadas diariamente à tarde, sob a orientação de acadêmicos do curso de Música da UFSM, como Fernanda Ribeiro. Ela participa da oficina de Educação Musical como ouvinte e também ministra a aula de flauta doce para as crianças. Além de ensinar, por meio de músicas folclóricas como “Ó Miguel”, Fernanda incentiva a continuidade no contato com a música e conta sobre aulas gratuitas de flauta que são oferecidas na região.
Pela terceira vez, ela ministra as oficinas voltadas às crianças no evento. “É importante que a musicalização comece desde cedo. A gente sabe que nem todos vão se tornar músicos, mas o aprendizado é essencial porque traz novas experiências e auxilia na coordenação motora das crianças”, afirma Fernanda.
Sophia e Alice vieram para a aula acompanhadas da mãe, Cíntia Freitas. Apesar de nunca terem tido contato com o instrumento, as irmãs acompanharam com entusiasmo os ensinamentos da professora Fernanda e até arriscaram algumas notas na flauta. Cíntia conta que ouviu falar sobre o Festival em Santa Maria, cidade em que reside, e optou por conhecer o evento de perto com as filhas. “Eu sempre busco oportunizar para elas o que eu posso de arte e música. E quando eu vi as oficinas resolvi trazer. Está sendo muito bom ver elas gostando”, conta Cíntia.
Já para Angélica Dotto Pivetta e a filha Helena, a participação no Festival tem se tornado tradição. Angélica conta que participou de praticamente todas as edições do evento por residir na região com a família por muitos anos. Para ela, tem sido emocionante reviver com a filha oficinas em que também participava quando criança. É a segunda vez que a pequena Helena faz a oficina de música. Ela conta que decidiu “ficar” no ano seguinte para aprender mais sobre o instrumento. “Escolhi a flauta porque ano passado já fiz isso e eu quero continuar. Acho que só daqui uns três meses eu vou parar”, conta Helena.
Espaço onde diferentes instrumentos se encontram
Ao final das oficinas, os diferentes instrumentos se encontram na Igreja para o ensaio – que tem como objetivo preparar os alunos para a orquestra sinfônica que acontece no sábado, às 16h. Para Rafaela Michel, que participa da oficina de violino, é uma oportunidade de conhecer e tocar com pessoas diferentes. “Ainda mais na música erudita, em que a gente acaba não tendo a chance de tocar em orquestra – o que é um ramo de atuação importante”, conta a acadêmica.
A programação do Festival segue até domingo (27) com oficinas, ensaios e concertos que levam música e cultura para o distrito de Vale Vêneto.
O concerto de encerramento do Festival será no Centro de Convenções da UFSM, no domingo (30), às 20h, gratuito e aberto ao público.
Texto: Thaís Immig, acadêmica de Jornalismo, voluntária da Agência de Notícias
Fotos: Ana Alicia Flores, acadêmica de Desenho Industrial, bolsista
Edição: Ricardo Bonfanti, jornalista
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