Com uma programação diversificada, incluindo rodas de conversa, painéis, oficinas de pintura e rituais tradicionais, a 2ª edição do “Brasil Terra Indígena” foi realizada na UFSM de segunda (23) a sexta-feira (27). O evento fez parte da programação da 38ª Jornada Acadêmica Integrada (JAI).
A acadêmica em Jornalismo e uma das integrantes da comissão organizadora Ana Beatriz Guedes Bacovis destaca que essa edição foi mais ampla que a primeira, pois contou com a participação de indígenas de aldeias próximas de Santa Maria, mas também de outros estados, como Minas Gerais, Ceará e Pará. “O que mais aqueceu o coração da nossa equipe foi presenciar tantos cocares e maracás na Universidade, no Restaurante Universitário, porque é isso que almejamos, que a Universidade seja pintada de povos! Que haja pluralidade e diversidade de todas as etnias”, afirma.
A edição deste ano contou com a participação de grandes lideranças indígenas, como Clécia Pitaguary, cacika da aldeia Monguba, no Ceará; Natanael Claudino, cacique da aldeia Três Voltas; Regina Goj Tej Emilio Kaingang, co-fundadora do CT Guarita pela Vida; Yaa Juruna, liderança jovem da Aldeia Mïratu, no Pará; Laisa Kaingang, professora pesquisadora e Mestre em Antropologia pela UFPEL; Rosa Pitaguary, coordenadora do Museu Indígena Pitaguary (MIPY); Domingos Xakriabá, cacique do povo Xakriabá; e a deputada federal Célia Xakriabá (de forma online).
Programação diversificada
Na segunda-feira (23), no hall do Restaurante Universitário, ocorreu a abertura cultural, que também deu início ao evento, com cantos, rezas e oficina de pinturas corporais. A escolha de fazer no hall do RU se deu porque é um espaço muito movimentado e, nesse sentido, é uma forma de aproximar a comunidade acadêmica da cultura indígena.
Além disso, diariamente, no auditório C – anexo ao prédio 18, a organização do “Brasil Terra Indígena” preparou mesas de debates, com lideranças indígenas, para expor e debater temas como “a resistência da mulher indígena”, “direitos constitucionais dos povos indígenas”, “educação decolonial e antirracista” e “territorialidade”.
Na noite de segunda ocorreu o painel “Mulheres: Corpos territórios indígenas em resistência”, com Regina Goj Tej Kaingang, Clécia Pitaguary, Yaa Juruna e Célia Xakriabá. O painel buscou trazer para pauta a descolonização do pensamento e a oportunidade de indigenizar a Universidade, além de ressaltar o papel de lideranças indígenas femininas que, agora, estão à frente dessa luta ancestral.
Além disso, foi realizado também o “Levante pela Terra”, que abordou os direitos constitucionais dos povos indígenas, e o painel “Pedagogia Decolonial e Educação antirracista”, que buscou trazer para debate formas de decolonizar a educação para tornar o espaço mais aberto ao povo indígena e menos racista
Para encerrar, na noite de quinta-feira (26), o tema abordado foi “A universidade que se quer: território de bem viver”, com a pesquisadora e mestranda em Educação pela UFRGS Daniela Franciela Sales Kaingang; Juvenal Xabriaka, liderança indígena; Joceli Sales Kaingang, bacharel em História; e Celso Jacinto, uma das lideranças do povo Kaingang de Iraí. Durante o painel, a mesa procurou debater sobre formas de possibilitar que o ingresso de indígenas nas universidades seja mais receptivo e que cada vez mais estudantes indígenas ocupem esse lugar.
Outros eventos da programação
“Corpo-território saudável e livre”: na manhã de terça-feira (24), a comunidade pôde acompanhar uma conversa sobre a descolonização da saúde, com a liderança indígena e coordenadora do Museu Indígena Pitaguary (MIPY) Rosa Pitaguary; os médicos André Rai Cherobin e Manoel Adilio dos Santos, ambos da etnia Kaingang; e com a psicóloga da Secretaria de Saúde Indígena (SESAI) Josiele Luana Morais.
“Roda de Saberes – Mulheres indígenas e o bem viver: Biodiversidade e ancestralidade de resistência”: em encontro virtual com a professora pesquisadora e mestre em antropologia pela UFPEL Laisa Kaingang, a Roda de Saberes trouxe para debate temas como saúde mental de jovens indígenas, que tiveram um crescimento elevado de suicídio nos últimos anos, segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz; além de debater também o lugar ocupado pela mulher indígena na sociedade.
“Apresentação de projetos indígenas da UFSM”: uma das pautas mais abordadas durante a semana do Brasil Terra Indígena foi a demarcação de espaços como o da universidade por parte dos povos indígenas. O objetivo é que ano após ano o número de estudantes indígenas cresça, em diferentes áreas do conhecimento. Neste sentido, e já que o evento faz parte do calendário da Jornada Acadêmica Integrada, a manhã de quarta-feira (25) foi voltada às apresentações de ensino, pesquisa e extensão de estudantes indígenas da UFSM.
O futuro e próximas edições
Após os eventos da semana, estudantes e lideranças indígenas que compuseram a organização se reuniram com o reitor da UFSM, Luciano Schuch, em cerimônia fechada, para discutir sobre melhorias de acessibilidade, principalmente para a Casa do Estudante Indígena, e também para debater sobre o Vestibular Indígena da UFSM. Segundo informações da organização do evento, o reitor se comprometeu a ampliar e melhorar as condições da CEU.
Esta foi a segunda vez que o evento ocorreu na UFSM e a organização já prepara a edição do ano que vem.
Texto: Andreina Possan, estudante de Jornalismo e estagiária da Agência de Notícias
Fotos: Ana Beatriz Bacovis/Divulgação
Edição: Ricardo Bonfanti, jornalista
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