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Projeto do Ctism leva conhecimentos em informática para alunas de escolas públicas

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a porcentagem global de mulheres pesquisadoras é de 33,3%. Além disso, dos 589 prêmios Nobel em STEM (sigla em inglês para “ciência, tecnologia, engenharia e matemática”) já concedidos, apenas 17 foram para mulheres. Dados como estes refletem que, apesar de muitas mudanças e avanços, a participação de mulheres em áreas STEM ainda é um desafio, que requer ações que incentivem e promovam o acesso de meninas e mulheres a esses espaços.

Uma dessas iniciativas, realizada na UFSM, é o projeto de extensão Gurias em Redes, desenvolvido no curso superior de Redes de Computadores, do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (Ctism), realizado em parceria com a Sociedade Brasileira de Computação (SBC), sob a coordenação da professora Márcia Henke. A equipe do projeto conta com uma servidora técnico-administrativa, seis professoras (das áreas de matemática, programação e inglês) e três bolsistas, todas do curso de Redes de Computadores, além de duas voluntárias, uma do Ctism e outra do Colégio Politécnico.

Um grupo de alunas está em uma sala. Ao fundo, há uma janela com cortinas. A sala tem várias mesas com computadores, e várias alunas sentadas. Uma mulher está de pé, ajudando uma das alunas.
Até o momento, o projeto Gurias em Redes ministrou dois cursos: de Introdução à Informática Básica e de Introdução à Linguagem HTML

Projeto aplicou cursos de tecnologia para alunas de escola estadual

O público-alvo do projeto são escolas estaduais e municipais de Santa Maria. A Escola Estadual de Educação Básica Professora Margarida Lopes foi a primeira em que os cursos foram aplicados, por conta da proximidade com a UFSM, facilitando o acesso das alunas aos laboratórios de informática do Ctism, onde os cursos foram realizados. “Queremos trazer a comunidade para conhecer a UFSM, as nossas instalações. Às vezes a comunidade não tem esse acesso. São dois objetivos: abrir os horizontes para essas meninas e, principalmente, poder trazer elas para dentro da universidade, mostrar e acolher”, comenta a coordenadora. Ela conta ainda que o projeto tem planos de expansão para outras escolas, o que atualmente é dificultado por conta tamanho da equipe.

Os cursos foram ministrados para 80 estudantes, que são alunas do 1º, 2º e 3º ano do ensino médio da escola. Inicialmente, as bolsistas e a coordenadora do projeto visitaram a escola para apresentá-lo e aplicar um questionário, para identificar qual o grau de conhecimento de informática que as alunas tinham. A partir das respostas, o primeiro curso foi criado. “Nos surpreendemos, e observamos que o curso teria que começar por uma introdução básica em informática. Que seria: o que é um sistema operacional, como liga e desliga o computador, atualizações, como eu posso instalar um antivírus, o que é um browser, quais são os tipos de browser. Começamos a trabalhar com elas como formatar textos, elas não sabiam que existia um ‘salvar como’. Algumas, não são todas, mas algumas não tinham a habilidade de manusear o mouse, porque não têm em casa, porque não têm muito acesso na escola”, comenta Márcia.

O primeiro curso, de Introdução à Informática Básica, foi realizado de 12 de agosto a 23 de setembro. O segundo curso, de Introdução à Linguagem HTML, iniciou-se no dia 30 de setembro e tem previsão de terminar no dia 2 de dezembro. Participaram dos cursos entre 20 e 25 alunas. Além das aulas nos laboratórios do Ctism, os materiais desenvolvidos pela equipe são disponibilizados para as estudantes via Moodle, ambiente virtual de ensino e aprendizagem.

A HTML foi escolhida como tema do segundo curso por ser uma linguagem de organização que não exige conhecimentos de algoritmo, e por isso é mais acessível para as alunas. Por meio dela, é possível organizar o texto, adicionar planilhas, imagens, fazer o alinhamento do texto. “O despertar delas nesse momento é de brilhar os olhos. Elas começam a brincar com as cores e com a configuração da página, e começam a entrar no que é uma tecnologia. Isso é uma primeira tecnologia, bem básica”, explica a docente. Em 2026, o projeto planeja iniciar o terceiro curso com as alunas, aprofundando temas da área de redes de computadores, ao explicar para elas tópicos como: o que é um protocolo de internet (IP), o que é uma rede local e o que caracteriza a internet, entre outros.

Quatro meninas posam para uma foto, duas de cada lado, em frente a um banner, preso a um suporte de madeira. Ao fundo, há outras pessoas, e também outros banners em suportes de madeira.
O projeto Gurias em Redes foi apresentado na Jornada Acadêmica Integrada (JAI)

As bolsistas desenvolveram as das duas apostilas utilizadas, que serão publicadas pela Pró-Reitoria de Extensão (PRE), e também ministraram as aulas junto com a professora Márcia. Antes dos cursos, também foi realizado um workshop de segurança para as mulheres em redes sociais, “apresentando a necessidade de se cuidar, mostrando as vulnerabilidades que a internet esconde. Por exemplo, quando você recebe um link, e isso dispara a instalação de alguma atividade maliciosa no teu computador, que pode roubar a sua identidade (phishing), suas informações, suas senhas (spyware). Trouxemos tudo isso, e a questão também da vulnerabilidade da mulher na rede social, com relação a feminicídio, pedofilia, etc.”, comenta Márcia.

Além de desenvolver as apostilas e ministrar as aulas, também coube às bolsistas a tarefa de divulgar o projeto, por meio do seu perfil no Instagram.

Importância de incentivar meninas a participarem de áreas STEM

De acordo com a Unesco, apenas 35% das matrículas em STEM no ensino superior são de mulheres, e no Brasil 31% das ocupações em STEM são de mulheres. Em 2018, 44% da força de trabalho do país era composta por mulheres. E apenas 28% da força de trabalho em ciência e tecnologia é composta por mulheres. Na área de engenharia, são 14%; na área de tecnologias da informação e comunicação (TIC), são 24%.

Apesar disso, as mulheres foram responsáveis por diversos avanços e descobertas científicas. O primeiro algoritmo da história, por exemplo, foi escrito entre 1842 e 1843 por Ada Lovelace, uma matemática britânica considerada a “mãe da programação”. Outros exemplos são Hedy Lamarr, inventora e atriz de Hollywood, que criou um sistema de comunicação que serviria de base para o desenvolvimento do Wi-Fi e do Bluetooth, e Jaqueline Goes de Jesus, pesquisadora brasileira que foi líder da equipe que realizou o primeiro sequenciamento do genoma do coronavírus no Brasil, 48 horas após a confirmação do primeiro caso, enquanto a média no resto do mundo era de 15 dias.

Valentina Dejan Paganotto é discente do curso de Redes de Computadores, e uma das bolsistas do projeto desde março deste ano. Ela conta que seu interesse em participar do projeto surgiu pela falta de incentivo para o ingresso de meninas em cursos das áreas STEM, algo que ela observa em seu próprio curso. “Como estudante do curso de Redes de Computadores, observo cotidianamente a discrepância de gênero presente na área, o que resulta em processos de exclusão que afetam diretamente as meninas e mulheres que optam por atuar nesse campo. Assim, participar de uma iniciativa que busca reduzir essas desigualdades se tornou especialmente significativo para mim.”

Texto: Giulia Maffi, estudante de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias.

Fotos: arquivo do projeto

Edição: Lucas Casali

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