Foi divulgado, na última semana, o resultado das eleições para a Academia Brasileira de Ciências (ABC). No pleito, duas docentes da Universidade Federal de Santa Maria foram eleitas para integrar a Academia a partir do próximo ano: Cristina Wayne Nogueira, como membra titular na área de Ciências Químicas, e Renata Rojas Guerra, como membra afiliada na área de Ciências Matemáticas.
Os mandatos passam a valer a partir de janeiro de 2024. Porém, os diplomas dos membros titulares serão entregues apenas em maio, durante uma Reunião Magna, que acontecerá no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. Já a diplomação dos membros afiliados será associada aos simpósios científicos de cada região, no caso da região sul, está previsto para ocorrer na segunda quinzena de outubro de 2024.
Importância e significado da conquista
Cristina, pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa da Instituição, que ganhou o posto de membra titular, destaca a alegria em receber o título. “É uma honra receber este reconhecimento. Me sinto profundamente grata por fazer parte desta Academia ao lado de brilhantes pesquisadores e pesquisadoras cujas contribuições significativas têm enriquecido o conhecimento científico. Minha expectativa é seguir contribuindo para a formação de recursos humanos qualificados e para o desenvolvimento da ciência no país.”
Para Renata, professora do Departamento de Estatística, ser uma afiliada da Academia é um incentivo para seguir com o trabalho. “A ABC é uma das mais prestigiadas sociedades científicas honoríficas do Brasil, ou seja, é uma organização que reconhece e homenageia pesquisadores que alcançaram destaque em suas áreas de estudo. Assim, sob uma perspectiva individual, integrar a ABC é um reconhecimento do meu mérito acadêmico e também uma oportunidade de fortalecer a pesquisa realizada na UFSM”, comenta.
Representatividade na pesquisa
Cristina entende a importância da conquista, como mulher, em um cenário científico dominado por homens e a representatividade que carrega ao levar a UFSM a ocupar espaços como esse. “Sou a primeira mulher [da UFSM] eleita Membra Titular da ABC, me somo aos professores João Batista Teixeira da Rocha e Gilson Zeni, colegas do Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas: Bioquímica Toxicológica. Nossa presença nos quadros da ABC confere visibilidade à UFSM, referenda a ciência de qualidade produzida na instituição e nos possibilita colaborar na construção de políticas que visam o desenvolvimento científico, tecnológico e social do país. Minha eleição para a ABC também colabora para mudar o cenário masculinizado da Academia e para inspirar jovens pesquisadoras a buscar ou permanecer na carreira científica”, afirma a docente.
Essa representatividade feminina carrega um peso ainda maior em uma eleição em que a maioria dos membros eleitos foram mulheres, com 60% das posições ocupadas. Segundo a ABC, esses números refletem a tendência da organização rumo à igualdade de gênero no topo da carreira científica, que é cada vez mais perceptível nos quadros da Academia. A organização também divulgou o alcance da equidade entre os membros afiliados, que já atingiu os 50%.
Renata chama a atenção para o protagonismo feminino da UFSM nas indicações e demonstra admiração pela colega de Instituição. “Nossa universidade possui muitos pesquisadores de alto nível. Inclusive, uma grande felicidade que tive ao receber a notícia da eleição é que a professora Cristina foi eleita este ano como Membra Titular da ABC. Em uma realidade de disparidade de gênero nos níveis mais altos da carreira científica, há um certo simbolismo no fato de as duas representantes da UFSM na lista de novos membros da ABC serem mulheres. Acompanho o trabalho da professora Cristina na PRPGP, e ela é uma grande inspiração para mim. Espero que agora eu também possa inspirar outras mulheres e meninas a confiarem em suas capacidades para contribuir para o avanço científico e tecnológico”.
Ambas acreditam que, aos poucos, participações e reconhecimento como os delas vão contribuir para uma mudança positiva no cenário científico.
Sobre a ABC
Fundada em 1916 no Rio de Janeiro, a ABC – na época chamada de Sociedade Brasileira de Sciencias – é uma organização independente, sem fins lucrativos e não governamental. A entidade reconhece o trabalho de cientistas que contribuem para o crescimento da pesquisa brasileira, por meio de estudos relevantes para o cenário nacional e auxilia no repasse de subsídios científicos que incentivem a criação de políticas públicas. O financiamento da organização vem de contribuições de membros individuais e corporativos, além do apoio financeiro de agências governamentais. Prestigiada por sua tradição, a Academia possui atualmente mais de 900 membros.
Atuação dos membros
A ABC possui cinco tipos de membresia, que contemplam pesquisadores de diferentes perfis, para desempenharem diferentes papéis na Academia. O membro titular tem como atribuição colaborar com o desenvolvimento científico, tecnológico e social do país. Além disso, os titulares representam a comunidade científica brasileira dentro do país e fora dele, visando a implementação de uma política de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) que possibilite o desenvolvimento de uma ciência socialmente benéfica, mobilize a comunidade científica para atuar em consonância aos poderes e contribua para o avanço científico, tecnológico e inovador.
Já o membro afiliado também contribui para a promoção da ciência no Brasil por meio da participação em iniciativas de divulgação científica, de educação e de engajamento público com a ciência. Essas iniciativas incluem reuniões anuais e simpósios científicos regionais da ABC, onde os membros expõem seus trabalhos acadêmicos e discutem, junto aos demais membros da Academia, os desafios e oportunidades da ciência no país. Também é possível ao afiliado integrar grupos que trabalham na elaboração de recomendações para políticas públicas em prol da população brasileira, bem como, sugerir propostas de estudos sobre temas de importância social.
Eleições ABC
Os candidatos a membros titulares são de indicação exclusiva dos membros titulares já eleitos. Cada candidato pode ser indicado por no máximo dois membros, através do preenchimento de um questionário, que deve destacar a atuação notória e o papel de liderança nacional na área do candidato. Esses formulários são enviados para membros titulares da mesma área do indicado que avaliam a candidatura com notas escaláveis, em que 1 é não recomendável e 5 é muito recomendável para integrar a ABC.
Já os candidatos a membros afiliados são de indicação exclusiva dos membros titulares da mesma região geográfica do candidato (definidas pela ABC, como Norte, Nordeste e ES, RJ, MG e Centro-Oeste, SP e Sul) para cumprir o mandato de cinco anos. Para a candidatura, o perfil procurado é de jovens pesquisadores, com até 40 anos de idade, de carreira promissora. Por ter um limite de idade definido, essa categoria abre exceção para as mulheres mães, adicionando um ano para cada filho, sendo biológico ou não. Ou seja, mulheres com três filhos, podem ser indicadas até 43 anos ou menos, por exemplo.
Texto: Júlia Weber, estudante de jornalismo e estagiária da Agência de Notícias e Mariana Henriques, jornalista
Design gráfico: Daniel Michelon de Carli
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